Após intervalo de pouco mais de um ano, o dólar voltou a fechar abaixo dos R$ 5 no mercado brasileiro na última terça-feira (22/06). Este é o menor patamar desde 10 de junho do ano passado, quando valia R$ 4,935.
O resultado desta terça veio de uma combinação de fatores internos e externos. Internamente, a sinalização na ata do Copom de que o ritmo de elevação da Selic já poderia ter se intensificado na reunião da semana passada levou instituições a aumentarem a aposta de juros mais altos pela frente no Brasil, o que torna o País mais atrativos para o capital externo. Lá fora, a moeda americana intensificou o ritmo de queda ante moedas fortes e alguns emergentes já na parte da tarde.
Desde maio deste ano, as cotações da moeda americana vêm cedendo no Brasil, em um movimento que de certo modo pode ser considerado tardio. As exportações de commodities (produtos básicos, como minério de ferro e alimentos) estão aquecidas desde o ano passado, na esteira da recuperação econômica pós-pandemia de países como China e Estados Unidos.
Ao vender mais commodities no exterior, o Brasil recebe mais dólares, o que em tese deveria fazer o preço da moeda americana recuar. No entanto, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vinha alertando que os preços das commodities estavam subindo com a maior demanda, mas isso não vinha sendo acompanhado por uma melhora no câmbio de países produtores como o Brasil. O fenômeno também havia sido identificado em outros exportadores de commodities como Chile e Colômbia.
No caso brasileiro, um dos motivos para que a moeda americana permanecesse em níveis próximos de R$ 5,50 era a preocupação do mercado financeiro com a sustentabilidade das contas públicas. A visão era de que, caso o governo não conseguisse organizar seu Orçamento em meio aos gastos extraordinários da pandemia, a moeda americana não recuaria.
A aprovação do Orçamento no fim de março reduziu a desconfiança do mercado em torno da área fiscal, pelo menos por enquanto. Isso abriu espaço para o efeito das commodities ser sentido mais diretamente no preço da moeda americana. Ao mesmo tempo, o Banco Central iniciou, também no mês de março, o processo de alta da Selic (a taxa básica de juros), para segurar a inflação. Desde então, a taxa saltou 2% para 4,25% ao ano.
A mudança nos juros impactou o câmbio. No ano passado, em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, a taxa real se manteve no território negativo por meses. Com juros reais positivos, o Brasil voltou a ser mais atrativo para o capital estrangeiro.
Além de vender mais commodities e atrair mais investimentos, o Brasil tem sido favorecido pela abundância de recursos no mercado internacional, vindos de países como os Estados Unidos.